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Editando a realidade dos fatos

Aconteceu uma coisa interessante durante a transmissão do caucus republicano do Iowa no início dessa semana. No canal MSNBC, a apresentadora Rachel Maddow anunciou, visivelmente tensa e cheia de malabarismos nas palavras, que eles optariam por NÃO mostrar o discurso do vencedor (Donald Trump) ao vivo porque não queriam “transmitir conscientemente coisas inverídicas” (no original, “knowingly broadcast untrue things”).

Vamos parar um pouco para analisar isso.

1.

Para além da óbvia posição pró-democrata que a MSNBC sempre teve, a decisão de NÃO transmitir o Trump ao vivo abre toda uma nova coisa.

Vamos aos fatos:

– Trump traz audiência. MUITA audiência. Mesmo seus detratores assistem. É quase irresistível. A MSNBC está optando, portanto, por não mostrar algo que certamente traria audiência. Olha que interessante.

– Uma das coisas mais óbvias que o jornalismo de TV faz para chamar atenção é sobressaltar o seu telespectador. Por isso que a gente sempre vê história sinistra de motorista de Uber que sequestra passageiro, ladrões que dão golpe em velhinhos no banco etc. É um artifício comum para manter você estressado e sempre de olho nas notícias. Sendo assim, é claro que há total interesse por parte da MSNBC de alarmar quem está assistindo. Sua audiência, mais à esquerda, vai se estressar com o Trump, então como assim não vão passar o discurso?

– Transmissão ao vivo de político discursando sempre vai ser mil vezes mais interessante do que pundits falando e falando e falando sem parar a mesma coisa. É uma opção óbvia para o produtor/diretor.

O que está por trás dessa decisão, em termos de interesse jornalístico? É realmente não arriscar “transmitir conscientemente coisas inverídicas”?

É uma “censura do bem”? (isso existe?)

É um tiro no pé?

É a Trump Derangement Syndrome fazendo toda uma emissora tomar decisões equivocadas, tanto em termos midiáticos quanto financeiros?

Ou é para passar a ideia assustadora de que ele vai falar coisas tão horríveis, mas tão horríveis, que é melhor a gente nem ver? Hummm.

2.

Continuemos. Qual é o objetivo aqui?

É para prejudicar o Trump? Creio que *não tão diretamente*, visto que sua audiência não vai votar no Trump anyway. Não ter seu discurso transmitido na MSNBC não vai tirar voto algum dele – pode até trazer votos, hehe.

É para minimizar a vitória do Trump (que aconteceu em tempo recorde)? Pode ser que sim. Ao desprezar um discurso e sumir com ele da transmissão (veja bem, eles estão *cobrindo o caucus ao vivo*, com mesa de analistas, porcentagens na tela etc.), a ideia é esconder a vitória acachapante do ex-presidente a qualquer custo e o impacto disso na corrida eleitoral.

Quando um veículo de comunicação opta por não mostrar algo, é porque tomou uma decisão editorial: isso não é importante.

Olha só que curioso: o resultado do evento que eles estavam passando não foi importante para eles.

Vamos repetir aqui devagar.

  • Você está com equipe completa cobrindo um evento.
  • Trata-se de um evento com um resultado (um “vencedor”) no final.
  • O vencedor vai falar. É tipo o ápice do evento.
  • Mas o discurso do Trump não é importante editorialmente para você? Hmmm.

Quando você descarta o discurso do vencedor das primeiras primárias republicanas, o que você realmente está fazendo?

Você está dizendo que não só não gostou do resultado como não vai reconhecê-lo.

Você está conscientemente ignorando uma coisa gigantesca que está acontecendo na frente do seu nariz: Trump está de volta mais forte do que nunca.

É essa verdade chocante que a MSNBC parece querer esconder do seu público.

3.

Agora vamos analisar essa questão do “untrue things”. A apresentadora alega que, para não acabarem transmitindo “coisas inverídicas”, eles não iriam passar o discurso do Trump.

A transmissão na íntegra um discurso político é um dos raros momentos em que a TV não interfere na realidade. Se o canal mostrar do início ao fim, sem cortes marotos, você verá a coisa toda nua e crua, exatamente como ela está acontecendo, e sozinho poderá tirar suas próprias conclusões.

Essa também é a última razão de ser dos canais de TV: mostrar eventos ao vivo, como jogos de futebol, Olimpíadas etc. A televisão não serve para mais nada além disso, a meu ver.

Agora, se de repente nós temos uma emissora que está cobrindo um evento ao vivo e se recusa a transmitir seu ápice (o discurso do vencedor), temos um gigantesco tiro no pé proposital. E bizarro.

Isso porque, em geral, as pessoas não estão interessadas em ouvir comentaristas por horas e horas a fio. A TV fica lá de fundo até surgirem os números do caucus e o discurso. Isso é o que eu acredito que a imensa maioria das pessoas faça ao assistir a um evento assim.

Tenho curiosidade de saber quantos mudaram de canal nessa hora.

4.

Optar por só mostrar os “highlights” de um discurso é mexer na realidade. Quando você faz cortes marotos, é possível mudar todo o contexto de uma fala, deturpá-la e até mesmo criar inverdades.

A coisa vil aqui nessa história é a alegação da MSNBC de não querer “conscientemente transmitir coisas inverídicas”.

A MSNBC partiu do princípio de que o Trump só falaria “coisas inverídicas” e resolveu “pré-censurar”, em nome da verdade dos fatos. Isso é muito grave.

Sob essa argumentação, optou por só mostrar alguma coisa se houver algo ali que a emissora ache interessante para a sua audiência.

É a naturalização da realidade editada (editorializada?) dos fatos.

É como se dissesse: “nós vamos transmitir aquilo que nós achamos que o Trump é, não o que ele realmente é, não se preocupem”.

É uma tomada de decisão ousada. A MSNBC compra a ideia de que seu público não está realmente interessado em fatos. O mundo real não seria bem-vindo lá, se isso significar Trump de novo como candidato republicano. Então é melhor “editar” essa parte dos fatos para só mostrar o que for a “verdade” da MSNBC.

Talvez os editores/produtores/diretores do canal acreditem piamente que têm a obrigação de fornecer ao público uma “verdade paralela”. Quem sabe ela se torna real?

Tem “método”, como dizem alguns? Não sei.

Não dá para afirmar que tem gente lá na cúpula da NBC esfregando as mãos e tramando: “bwahahahah, agora nós vamos criar nossa própria narrativa para promover uma agenda maquiavélica esquerdista…”.

É mais provável que isso tenha sido feito num nível inferior mesmo, com seus jornalistas todos apavorados e vítimas de Trump Derangement Syndrome.

(Enfim, não tem como a gente saber os bastidores dessa decisão.)

O que me preocupa, contudo, é o precedente aberto.

Daqui a dois anos a Globo pode querer fazer a mesma coisa.

Editorializar a realidade não deveria substituir fatos transmitidos ao vivo. Você espera esse tipo de coisa em programas de opinião, documentários sobre “a democracia resistir” (kkkkk!) ou até mesmo noticiários. Mas em tempo real?

A porteira está aberta.

Duas histórias sobre percepção e essa coisa de esquerda x direita

Para poupar energia, nosso cérebro tira conclusões apressadas de tudo o tempo inteiro a partir de uma PERCEPÇÃO inicial. TODO MUNDO É ASSIM.

Vou contar duas histórias.

1.

Era uma vez uma figura desenhada no PowerPoint com elementos para fora do limite do slide. Quando a gente tentava exportar, ela ficava cortada – só ia aquilo que estava dentro da parte branca.

Lá fui eu explicar isso para o autor. Um engenheiro. Você acha que ele entendeu que precisava ajustar o tamanho da figura? Claro que não.

Qual foi a PERCEPÇÃO dele? Que eu, uma mulher, provavelmente de humanas, não estava sabendo mexer no PowerPoint.

Recebi dois áudios no zap me explicando (mansplaining é um fato da vida, ACEITEM), com vozinha doce e suave, beeeem devagariiiinho, como eu deveria exportar o slide em JPG [blablabla, bocejoooo]. Ganhei até um link para um tutorial da Microsoft.

Depois que eu perdi alguns minutos juntando evidências de que o problema não era esse, recebi um áudio assim: “Aaaaaaaahhh, mas você não vai conseguir nunca, tem que redimensionar a figura!”

OOOOHHH, jura?!?!?

Por que ele não entendeu de primeira? O que ocorreu?

Bom, sem o devido estímulo (womansplaning – isso existe em consequência do mansplaining, ACEITEM), ele nem sequer consideraria que eu pudesse saber o que estava fazendo.

O cérebro dele gastaria muita energia para incluir todas as hipóteses. É mais rápido (e fácil) assumir que eu não sei fazer. Assim como, para mim, foi mais rápido ter assumido que ele iria entender de primeira minha solicitação.

Outra história. Essa é demais.

2.

Eu fui ao pediatra de vermelho. Sabe o que aconteceu? Ele abriu seu coração esquerdista para mim. Foi bizarro e fascinante ao mesmo tempo.

A PERCEPÇÃO dele foi influenciada pela COR DA MINHA BLUSA. Ele achou que poderia falar comigo sobre eleição e excluiu a possibilidade de levar um fora.

(Por outro lado, a minha PERCEPÇÃO sobre ele não mudou um milímetro. Aquele croc de couro hippie nunca me enganou, hehehehehe……)

É assim que surgem os preconceitos. É uma mistura de cultura com valores e influência de todos os lados.

Minha mente, por exemplo, sempre faz essa associação: hippie -> esquerda.

O pediatra fez assim: blusa vermelha -> esquerda

O autor fez a associação mulher -> dificuldades com PowerPoint.

O pediatra é doido? O autor é machista? Eu acho que não. O pediatra está nervoso com a eleição desde praticamente o dia do meu parto. E o autor foi vítima da preguiça cerebral que acomete todo mundo. Normal.

Agora é que fica interessante.

Esquerda e direita têm uma visão oposta sobre essa percepção.

A esquerda quer mudar a sociedade e a cultura para tentar alterar essas percepções errôneas que o ser humano tem o tempo todo. O coletivo está acima do indivíduo.

A direita é o oposto: o indivíduo supera o coletivo. Ela quer CONSERVAR as coisas como elas estão. A mudança tem que surgir do indivíduo primeiro, e não ser imposta goela abaixo por quem quer que seja (especialmente o governo).

Vamos dar o exemplo de um segurança da C&A que vê alguém mal ajambrado e já fica de olho achando que essa pessoa vai roubar. Como já explicado antes, isso é PERCEPÇÃO: o cérebro dele está seguindo padrões e automaticamente excluindo a possibilidade de a pessoa pagar por algum produto (é a coisa mais fácil a fazer com o cérebro).

O esquerdista vai achar isso um absurdo; vai achar que o segurança é um racista horroroso, uma pessoa ruim, ou que foi orientado por alguma pessoa ruim, que a sociedade em que vivemos é ruim e permite isso, e assim vai.

A esquerda quer mudar o mundo para fazer com que esse tipo de percepção nunca aconteça. A pessoa mal ajambrada tem que ser tratada igual a qualquer outra na loja e se isso não acontece a culpa é da sociedade e seus valores culturais, que estão errados.

O esquerdista quer mudar essa ideia de que o segurança tem que ficar de olho. Isso seria moralmente errado. A sociedade tem que mudar para tal percepção não mais acontecer. O coletivo vale mais que o indivíduo.

Já quem é de direita não quer mudar mundo nenhum. O conservadorismo é justamente CONSERVAR AS COISAS COMO ELAS ESTÃO. Não veem muito problema no que o segurança está fazendo. Para eles, isso é meio que senso comum: o segurança está fazendo o trabalho dele. Não teria nada de errado em ficar de olho em alguém mal ajambrado.

Os conservadores acham moralmente errado justamente a esquerda ficar forçando goela abaixo das pessoas uma mudança na PERCEPÇÃO individual. O indivíduo necessariamente tem prioridade sobre o coletivo.

O direitista é necessariamente um racista horroroso? Odeia pobre? Claro que não. Ele valoriza o julgamento individual daquele ser humano sobre qualquer visão imposta por outro.

Eu poderia ficar dissertando horas sobre isso, mas cadê o tempo e o estofo intelectual? Pois é, se foram.

Vou resumir da seguinte forma:

Nosso cérebro cria padrões para não gastar muita energia. Nossa PERCEPÇÃO das coisas vem disso. Essa PERCEPÇÃO causa automaticamente EXCLUSÃO de diversas hipóteses possíveis.

A esquerda vê isso como uma questão de moral e quer mudar essa percepção a fórceps. A direita quer manter tudo como está.

Não pense que o esquerdista consegue ‘frear’ essa percepção automática das coisas. Nada disso. Ele vê uma blusa verde e amarela da CBF e automaticamente tira conclusões horrorosas sobre a pessoa que está vestida assim.

A coisa é que a esquerda sofre muito mais com isso. Fica toda hora se policiando para não excluir ninguém e ralha com todo mundo que toma qualquer posição que acabe excluindo alguém. Isso a longo prazo tende a ser muuuuito estressante para esse pessoal woke, pois basicamente tudo o que a nossa cabeça faz é excluir hipóteses o tempo inteiro para não se cansar muito.

É uma luta inglória (e extenuante!) contra o funcionamento do próprio cérebro.

Quatro dicas fanfarronas e uma séria para a eleição

Hoje começa a propaganda política! Êeeeee! A-DO-ROOOO! :D :D :D

Vamos às dicas:

1) Se você quiser estar no time vencedor: procure pelo melhor cabelo. Ele quase sempre ganha, se coisas emocionais não estiverem envolvidas. Se a disputa estiver uma coisa muito emocional e louca na sua cidade, tipo dois anos atrás, procure aquele que estiver causando a maior comoção.

2) Se você tem uma quedinha pelos ‘frascos e comprimidos’ (todo mundo passa por essa fase! Eu já votei no PSTU várias vezes. Não tenha vergonha! É um estilo de voto tão legítimo quando qualquer outro): fique de olho naqueles comerciais mais curtos. Ali está o seu candidato. Vá no mais exótico. Ou naquele que te der mais pena.

3) Sobre fazer aquela coisa fictícia (“Pesquise os candidatos”. “Leia o programa de governo”. “Analise as propostas”): Na boa? Isso dá muito trabalho e pouco retorno. Esteja ciente de que na hora de votar nada disso será considerado. Você pode ler tudo de todos os candidatos, botar a sua caixola para analisar os “fatos” racionalmente, mas tudo será ignorado na hora de tomar a decisão final. Não é o seu cérebro que vota; é o seu fígado, suas vísceras, seu dedo, seu útero, seu esôfago, sua córnea, qualquer outra parte do corpo, enfim. Mas não o cérebro. Lembre-se: fatos não importam.

4) Não quer se amofinar? Não vote. Vai lá, paga a multa e pronto. Ou, se você gosta de passear, anule. Ou aperte EM BRANCO (sempre achei esse botão hilário!).

**Atenção: Minha dica final é séria. É um tanto polêmica, mas não estou nem aí. É a mais efetiva. Se 80% das pessoas fizessem isso, a eleição seria um processo menos maluco. O problema é que as pessoas fazem justamente o oposto: votam PARA CONTRARIAR sei-lá-quem. Votam só-de-raiva. Votam para causar. Votam em pânico. Votam com a galera/grupo de zap. Votam em quem pagar um sanduíche. Votam em quem prometer vantagens. Minha dica é JUSTAMENTE O CONTRÁRIO DISSO.**

5) Terceirize o voto. Escolha alguém de sua confiança e pergunte: em quem devo votar? Esse alguém deve ser sensato, que você admira e com quem tem certa afinidade em termos de valores e crenças. Vote em quem essa pessoa sugerir e pronto.

Por que digo que terceirizar o voto é O CONTRÁRIO de votar em quem “a galera/o zap” decidiu? Bom, porque votar com a galera implica em você ter ACHADO que decidiu junto com um monte de gente. Não é esse o meu conselho. Também não estou dizendo para você encontrar um guru na internet (hehehe! <3 <3 <3 ) e votar em quem ele apoiar.

Vou repetir aqui: a ideia é você NÃO ESCOLHER O CANDIDATO.

É terceirizar o voto escolhendo ALGUÉM DE CONFIANÇA para te sugerir um nome. Alguém com quem você tem uma relação pessoal boa e *te conhece*. Alguém que você também conhece e que você admira, que tem a cabeça parecida com você. Alguém que você acha que seria melhor que você nisso. That’s it.

Deixar que alguém mais apto tome essa decisão é a melhor forma de votar e não fazer merda.

Muitas pessoas perguntam, sim, para os outros em quem votar: ao padre, pastor, instituição, professor, ONG. Tem gente que vota no amigo. Tem amigo que vira pra você e fala: ‘pô, vota no meu primo’. Tem gente que segue o sindicato da sua categoria. NÃO É ISSO QUE ESTOU FALANDO.

A terceirização do voto requer que você se esforce para escolher a PESSOA DE CONFIANÇA que será responsável por isso. Isso é fundamental. Deve existir uma relação pessoal entre vocês, mas evite amigo. Em geral essa pessoa é parecida com você, mas raramente é como um mentor. A ideia é escolher alguém MELHOR que você nisso.

E desconfie muito daquele seu amigão engajado demais em alguma coisa. Esse aí dificilmente é capaz de tomar uma decisão razoável que não envolva crenças irracionais enraizadas dentro dele. Eu falei que a pessoa de confiança que você escolher deve ser SENSATA. Quem é muito engajado/militante/partidário de algum lado pode ser sensato em outros aspectos, mas não será nada sensato ao escolher um candidato.

A chave é a SENSATEZ. Procure por isso na sua pessoa de confiança e nunca mais se estresse em eleição :)

Joias Brutas (Uncut Gems)

Quando um filme não sai da sua cabeça mesmo depois de já ter assistido outros depois, tem algo aí.

A coisa fascinante de “Joias Brutas” (Uncut Gems) é sua intensidade. Ele já começa nervoso e dali não para. Como Diego bem disse, “esse filme começa no meio”. E é essa mesmo a vibe: a gente vê o personagem de Adam Sandler pra lá e pra cá, sem parar para respirar, com ação atrás de ação, e aos poucos a coisa se revela ao espectador.

Ele está claramente enrolado em algum tipo de dívida?; parece que ele faz apostas?; ele tem uma amante?; alguém importante vai chegar na loja dele?; e por aí vai. Parece que a câmera chegou no meio da história e você tem que descobrir o que está acontecendo aos poucos. É muito bem feito.

A escolha do Adam Sandler para o papel principal foi um achado. Existe esse mito, né, de que o comediante precisa se “provar” fazendo filmes não engraçados, tipo Jim Carrey e Steve Carrell, tentando ganhar Oscar, blablabla. Só que esse filme aqui não tem nada a ver com esse tipo de coisa (se bem que eu indicaria o Adam Sandler para melhor ator num piscar de olhos. Ele está FODA).

Trata-se de um suspense alucinado cujo personagem principal não vale nada de nada. Não tem nada de valioso nesse cara, talvez só as pedras com as quais ele trabalha, hehe. O Adam Sandler se encaixa aí perfeitamente porque a) a vigarice e o deboche necessários para o personagem teriam que vir necessariamente de um comediante. Não consigo imaginar outra forma de fazer isso; e b) trata-se de um super mega judeu com cara de judeu e tudo que o personagem principal precisa.

A outra coisa é que o final do filme ainda assim não é o “fim” – o corte foi feito num ponto certamente inesperado, com um desfecho no mínimo bizarro, que não é bem o “final” da história. Isso só deixa a coisa ainda mais desconcertante (não posso prosseguir nos detalhes senão vai spoilear).

Em resumo: o Adam Sandler está um espetáculo.

Esses diretores me deixaram bolada. É preciso talento para extrair um filme tenso assim de uma trama que NÃO é de mistério. Vale muito a pena.

Não se prive de um filmaço só porque você implica com um dos maiores comediantes do nosso tempo. (eu vi no Netflix, mas aparentemente ele entrou em circuito de cinema nos EUA; quem sabe entra em cartaz?).

Existe democracia sem imprensa?

Volta e meia surgem editoriais dizendo que sem imprensa não há democracia. Uma imprensa forte = democracia forte. E imprensa fraca = democracia fraca.

Isso gera, claro, aflição em pessoas sensatas que são a favor de democracia e que veem as tiragens de jornais e revistas caírem vertiginosamente há anos. Estaria a democracia acabando junto com a imprensa??

Antes de entrarmos em pânico, contudo, temos que analisar as circunstâncias na qual a imprensa alega isso. Será que isso é um fato? Sem democracia não há imprensa? Qual é a ideia desse argumento?

1. CONTEXTO

Quando é que a gente costuma ler sobre democracia e imprensa em um editorial? Qual é o tom desse texto?

Em geral, trata-se de um texto nervoso e esbravejante em *reação* a alguma coisa. Alguma coisa que a mídia decerto não aprovou. Certamente foi alguma coisa que a fez se sentir ameaçada, já que ela vai alardear sua importância: sem imprensa não há democracia, hein!

A imprensa, por razões que não vou abordar aqui, está se sentindo pessoalmente atacada e reage dizendo ‘ei, sou fundamental para vocês. Vocês precisam da gente, senão não tem democracia’.

Só que isso não procede mais. Quem precisa da mídia hoje?

a) Autoridades não precisam mais dar coletivas de imprensa, é só fazer uma LIVE ou usar as redes sociais.

Isso enfraquece a mídia? Sim.

Isso enfraquece a democracia? Não. Pelo contrário.

b) Celebridades têm seu próprio canal no Insta ou YouTube e se divulgam diretamente, sem imprensa.

Isso enfraquece a mídia? Sim. Você mesmo pode ir lá seguir sua celebridade favorita sem o filtro da imprensa. Apesar de agora existirem programas e matérias que acabam girando em torno do que as pessoas postam na internet, trata-se basicamente da mídia tentando não perder o bonde.

Isso enfraquece a democracia? Não, já que qualquer um agora pode virar celebridade de nicho. Então eu diria que isso *fortalece* a democracia.

c) Anunciantes de classificados usam sites e apps próprios para imóveis, carros, etc.

Isso enfraquece a mídia? Muito! Essa era uma fonte de receita importantíssima que agora não existe mais.

Isso enfraquece a democracia? Claro que não. Agora todos os apps de imóveis, carros, etc. são gratuitos, você não precisa comprar o jornal para ver anúncios.

d) Dono de bicho de estimação já consegue comprar “JORNAL PET” a quilo em alguns jornaleiros.

Isso enfraquece a mídia? Acho que não, só quando for mais barato comprar esse tipo de papel direto, sem ter sido usado como jornal antes.

Isso enfraquece a democracia? Não.

e) Há cada vez menos gente como eu, ‘media junkie’. Os poucos que restaram podem se viciar em redes sociais, Netflix, Kindle (meu caso; parei de ler notícias em janeiro).

Isso enfraquece a mídia? Sim. Há muito menos gente lendo jornal e revista.

Isso enfraquece a democracia? Não.

Hum, olha só que interessante. Acabamos de constatar que aquilo que enfraquece a mídia em geral NÃO enfraquece a democracia! Viva!

É interessante não se deixar confundir pela imprensa. Ao alardear que imprensa forte = democracia forte, a mídia quer grudar uma coisa à outra sem nenhuma razão lógica a não ser afligir quem já está com medo da democracia ir para o espaço (medo este infligido por quem? Ela mesma, a mídia!).

A imprensa está acabando, mas a democracia não. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Você pode atéee alegar que a internet matou o jornal e a revista, mas nunca que a internet matou a democracia.

E você pode atéeee alegar que certos presidentes ameaçam a democracia, mas isso não tem nada a ver com a mídia. Reclamar e fustigar a imprensa não faz de ninguém um ditador. São fenômenos totalmente separados.

Imprensa e democracia estão sendo juntadas em editoriais puramente para causar aflição. A mídia, claro, nunca vai parar de dar importância a si mesma, importância esta que hoje já é ilusória.

Vejamos agora um segundo aspecto que talvez você pode estar me acusando de ter ignorado de propósito. A questão da imprensa “livre”.

2. O FATOR “LIVRE”.

Você pode pensar assim: “mas Tia Má, não seja weasel. Quando a mídia diz que não existe imprensa sem democracia, ela quer dizer que não existe imprensa LIVRE sem democracia.

De fato, tem isso. Em geral, a mídia faz você pensar em países como Cuba, China, Rússia, onde tem imprensa, mas não é “livre”… e quem define o que é “livre”? Hummm. Então o argumento não é exatameeeente “imprensa = democracia”.

Conclusão #1: há imprensa *com ou sem* democracia (forte ou fraca). O que dizem que não há é “imprensa livre”, mas ninguém explica direito o que é o “livre”.

Trata-se de uma abstração vaga e completamente impossível de se definir. A coisa é propositalmente complicada para nos confundir. Você pode ficar os quatro anos de uma faculdade de comunicação discutindo o assunto e nunca chegar a uma conclusão. Por isso serei sucinta aqui:

É impossível definir “livre”.

Essa definição vai variar justamente *conforme aquilo que a imprensa quiser que seja considerado “livre”*.

Observe algumas possibilidades:

– livre = poder publicar críticas a qualquer um sem sofrer retaliações.

– livre = poder publicar desonestidades contra qualquer um sem sofrer retaliações.

(ok, espero que em uma democracia seja possível aplicar a lei em casos como difamação, néam!)

Perceba a fina linha existente aqui. Qual é o limite do que pode ou não pode? Como saber? Quem define o que é “livre” em uma democracia?

É a imprensa?

Ora ora ora. Temos um conflito de interesses aí, né, hehehe.

Se quem define o que é “livre” é a imprensa, qualquer mínimo movimento que ela própria julgar suspeito vai ser pretexto pra ela gritar que a democracia está enfraquecendo e que portanto a mídia está sendo sufocada.

Sendo assim, não é eficiente raciocinarmos em termos de “imprensa livre”. Não vamos chegar a lugar nenhum.

A melhor pergunta é: o governo tal permite acesso livre à internet? Sim ou não?

Conclusão #2: é muito mais provável que não exista democracia sem internet.

Aííí sim a palavra “livre” é bastante fácil de definir: dá pra acessar qualquer site? Sim ou não?

Se algo enfraquece a mídia é problema dela; se não enfraquece a democracia, podemos seguir.

Exemplo rápido: quando o Trump xinga o noticiário de fake news no Twitter ele está enfraquecendo a mídia? Sim, está. Mas ele está enfraquecendo a democracia ao estrebuchar no Twitter (e deixar todo mundo estrebuchar de volta)? Claro que não.

Imprensa não tem nada a ver com democracia. A decaída de uma não tem nada a ver com a outra. Pense nisso.

Entendendo o “tiro na cabecinha” (semanticamente)

A VEJA desta semana fez uma matéria ralhando feio com o Wilson Witzel, governador do Rio, por ter criado a “política do tiro na cabecinha” e com isso ter matado acidentalmente a menina Ágatha Félix.

Aqui vou tratar mais de semântica e interpretação de texto do que de política, e vejo vários problemas aí:

  • Não existe “política do tiro na cabecinha”. Essa foi uma frase de efeito extremamente visual/persuasiva do Witzel, que com isso se fez conhecer no país inteiro. A coisa claramente funcionou, porque todo mundo só fala de “tiro na cabecinha”.
  • Mas ok, vamos reduzir a coisa toda de forma que jornalistas entendam e vamos supor que o governador tenha de fato dado a ordem literal: “ei, polícias, deem tiros na cabecinha”. Vocês lembram a frase completa? Lembram o que veio depois de “tiro na cabecinha”? A frase continua assim: “ … e… fogo! … Se estiver mirando em alguém, tem de receber tiro na cabeça na hora.”
  • Vamos lá, repetindo: a ideia do governador é simples e fácil de entender: tiro na cabeça de quem estiver armado e mirando em alguém. Ok? Deu para compreender somente este trecho? De novo: estou falando em palavras, não em política. Prossigamos então.
  • Se alguém está ARMADO e MIRANDO EM ALGUÉM, soa razoável para tipo 90% das pessoas concordar que essa pessoa deve ser, no mínimo, detida. No mínimo. Alguém ARMADO e MIRANDO EM ALGUÉM não tem boas intenções. Correto? Podemos assumir esta premissa? Então beleza. Prossigamos.
  • Não vou entrar no mérito sobre se é certo ou não uma política de atirar em quem está armado. Não sou expert em segurança, não sei qual seria a coisa certa a fazer, e minha opinião não importa para o grande esquema das coisas. A única coisa que eu sei é aquilo que já vimos mil vezes em filmes: geralmente, trata-se de um trabalho de inteligência, que requer duas coisas: 1) saber os movimentos do inimigo, seu posicionamento etc. ; 2) colocar um sniper em posição, que mira “na cabecinha” do terrorista e o mata a quilômetros de distância. Certo? Essa é a ideia visual da coisa, portanto, do que significa “tiro na cabecinha”. Repetindo: trabalho de inteligência, para saber onde está o bandido, e alguém à distância, um sniper, atirando *somente* na pessoa armada. Podemos concordar que é isso que 99% das pessoas deveriam interpretar da expressão “tiro na cabecinha”? (de novo: não cabe a mim dizer o que é certo ou errado aqui, estou apenas explicando a ideia visual da expressão).
  • Sendo assim, podemos concluir que o que está acontecendo no Rio de Janeiro, com crianças sendo mortas a esmo por balas perdidas, é TUDO MENOS “política do tiro na cabecinha”.
  • Podemos concordar que um “tiro na cabecinha” é um tiro INTELIGENTE e DIRECIONADO a alguma cabecinha? E não troca aleatória de tiros? Podemos assumir isso, certo?
  • Se houvesse DE FATO uma “política do tiro na cabecinha” no estado do Rio de Janeiro, nós teríamos uma diminuição drástica de mortes por bala perdida. Afinal, repito, este é um tiro sob ordem de alguém superior, que fez o trabalho de inteligência. É um tiro MIRADO. De sniper. Na cabecinha. Sob ordens inteligentes. Certo? O foco estaria em matar pessoas armadas, e não inocentes.
  • A VEJA (e toda a mídia) erra ao partir do princípio de que Witzel implementou sua famosa frase, quando aquilo era puro factoide/fake news.
  • A VEJA (e toda a mídia) deveria criticar o Witzel justamente por ele NÃO TER IMPLEMENTADO ESSA POLÍTICA do “tiro na cabecinha”. Deveria ter cobrado dele JUSTAMENTE o emprego de snipers e de inteligência. Deveria cobrar dele treinamento de policiais, para que estes melhorem sua mira. Deveria cobrar dele que não premie policiais que entram em comunidade atirando sem pensar. Porque isso é justamente o CONTRÁRIO do “tiro na cabecinha”.
  • A ideia de snipers atirando “na cabecinha” é fabulosa justamente pelo que cria no imaginário das pessoas: PUXA, FINALMENTE AGORA A POLÍCIA VAI PENSAR E ATIRAR NA PESSOA CERTA. Todo mundo quer isso. Todo morador de comunidade quer justamente isso: policiais atirando *em bandido*.
  • Aliás, arrisco a dizer que qualquer pessoa razoável concordaria com a ideia de que o policial só deveria atirar em bandido quando soubesse o que está fazendo. Isso é bem óbvio.
  • O que NÃO PODE é a política do policial que atira a esmo. Isso é o OPOSTO de uma suposta “política do tiro na cabecinha”, que exige um criterioso trabalho de inteligência e excelente pontaria.

Meu ponto semântico todo é: quando uma revista culpa a política do Witzel do “tiro na cabecinha” pela morte de uma criança, está fazendo tudo errado. E não vai adiantar de nada. Não vai fazer nem cosquinha no governador. Por quê?

Porque a ideia do “tiro na cabecinha” é imbatível e quase unânime. A reportagem não vai dissuadir o Witzel e não vai mudar a opinião de quem é a favor de bandido morto – afinal, muita gente é contra a morte de inocentes e a favor da morte de bandidos. Esta é uma ideia que não some, mesmo que crianças estejam sendo mortas a esmo. Todo mundo quer menos bandidos no mundo.

Sabe o que reportagens assim causam? Você já viu isso antes: todas as autoridades vão ficar repetindo loucamente que este foi um caso “isolado”. E toda vez que morrer um inocente vai ser a mesma coisa.

Quando você critica a coisa errada, sua mensagem não vai adiante. E vai levar a uma reação errada (“este é um caso isolado…”).

O que deve ser criticado aqui é justamente a política do “tiro a esmo”, e não a do “tiro na cabecinha”.

Se o “tiro na cabecinha” estivesse DE FATO em prática, Ágatha não estaria morta.

Então fica a dica aqui: se quiser atingir o Witzel, acuse-o de fake news por ter falado em “tiro na cabecinha”, mas não ter treinado policiais. Por ter prometido inteligência e snipers e ter entregado policiais estressados andando na rua e atirando em qualquer um que eles considerarem suspeito. Isso não é “política do tiro na cabecinha”. Isso é tiro a esmo e falta de noção (alguns chegam a chamar de “genocídio”).

A mídia ERRA quando valida a existência de um factoide. Enquanto não cobrarem o governador sobre essa falácia do “tiro na cabecinha”, nada vai mudar.

A arte de manter a calma em dez passos

  1. Tome seus remédios conforme a prescrição médica. Isso inclui até vitamina, pílula, o que for. Estar em dia com seus medicamentos é fundamental, não importa a sua condição (isso não tem nada a ver com doença mental, vale para todo mundo). Seu corpo precisa estar equilibrado para você manter a calma. Certifique-se de que seu dia será normal mantendo seu corpo com a quantidade normal de remédios, a qual você está acostumado.
  2. Tenha um padrão de café da manhã. Seja por conta de dieta ou não, é imprescindível que você mantenha um padrão diário de alimentação. Crie esse hábito. Não, ir todo dia no Starbucks não conta se você não comer nada e só beber café. Quando eu falo “café da manhã”, estou me referindo a uma mesa com pão, queijo, manteiga (ou Becel triste, no meu caso), o que preferir. Ênfase em MESA. Estou me referindo a comer com calma. O café da manhã tem que ser uma refeição completa e a coisa mais gostosa do seu dia. Você tem que começar o seu dia de forma ESPETACULAR, dentro da sua possibilidade de dieta, claro. Não se trata de comer besteira, mas de comer BEM. Se você não tem esse hábito, se você sai afobado porta afora e vai para uma fila apressada de café, qual é a chance de você passar o dia inteiro afobado? COMA. COM CALMA. Não pule o café da manhã. Comece pedindo algo para comer no Starbucks, sente-se e contemple um pouco as coisas. Mas depois livre-se das coisas gordas dessa loja; a longo prazo isso pode fazer muito mal.
  3. Algo mudou na ida para o trabalho? Se algo foi diferente-ruim (ônibus demorou, metrô cheio, trânsito devagar), isso pode afetar o seu humor para o dia inteiro. Ter consciência disso vai fazer você se acalmar se algum idiota cruzar o seu caminho: não foi o idiota, foi o trânsito.
  4. Coma antes de responder a qualquer provocação. E-mail sem noção, amigo maluco nas redes sociais, etc. Só responda se você tiver comido antes.
  5. Sorria. Sorria muito. Até na hora de dar esporro, comece sorrindo. O esporro vai sair suave. Se um energúmeno faz uma coisa idiota e prejudica o seu trabalho, por que você deixaria esse mesmo energúmeno estragar o seu dia? Você é melhor que isso. Eu entendo que gritar e estrebuchar vai lhe dar um certo alívio, porém esteja ciente de que descarregar sua fúria no outro vai levar o outro a ficar carregado de raiva também. A raiva sai de você e vai para o outro, que pode gritar de volta, ou, pior, pode querer se vingar de você lentamente distribuindo essa raiva ao seu redor, em pequenos pacotes. Fuja desse círculo vicioso. Não exploda com ninguém, que assim a raiva não vai retornar. Não dissemine a raiva, reduza-a. É melhor para todo mundo.
  6. Seja lá qual foi a coisa que tirou você do sério, não deixe que isso tome conta do seu dia inteiro. Resolva-a o mais rapidamente possível. Eis um estímulo para lidar calmamente com coisas idiotas: é que assim passa mais rápido. Veja o meu exemplo: eu comecei escrevendo um e-mail, fiquei nessa quase 15 minutos. Deu fome, fui comer e quando voltei achei melhor ligar logo para a pessoa, explicar a situação e perguntar se a pessoa então poderia por favor me ajudar fazendo x, y e z. Eu não consegui evitar a caquinha que a pessoa fez (idiota!!), mas a ligação foi menos de 5 minutos e ela concordou com as minhas ponderações: vai fazer x, y e z, ou seja, o sofrimento foi bem menor para mim. Resultado: em vez de durar o dia inteiro via e-mail, a coisa se resumiu a poucos minutos do meu dia.
  7. Ignore se a coisa toda for de baixa prioridade. Por exemplo: redes sociais. A não ser que você ganhe dinheiro com isso, sua relação com as pessoas da sua rede é meramente pessoal. Deixe para o fim do dia, portanto, quando você já saiu do trabalho e de todos os pequenos perrengues do dia. Ah, mas você vai ver tudo defasado?! Não vai saber quais foram as tretas da manhã?! E DAÍ?? Pare para pensar. A vida é muito melhor sem tretas. Ainda mais tretas de manhã. Mesmo que você ache que seus amigos sejam “alta prioridade” para você, e você ache que precisa manter um perfil legal nas redes sociais, etc. e tal, reflita sobre isso. Elas são tão importantes assim que você precisa postar para elas ou respondê-las todo dia? Por acaso você é alta prioridade para esse pessoal? Claro que não. As pessoas postam para todo um público, não só para você. Seus amigos não ganham seu salário por você, não lavam a roupa por você, não passam estresse por você. Sem contar que seus posts podem estressar alguém.
  8. Não comece o dia abrindo o WhatsApp. Não faça isso de jeito nenhum. Você vai ficar estressado com as mensagens aleatórias de bom dia em grupos bizarros. Pare para pensar: não faz sentido algum entrar em um aplicativo para se estressar – contudo, você faz isso todo dia, e todo dia se estressa lá com as mensagens de bom dia, correntes freak, fake news. WhatsApp é fonte certa de estresse; não tente negar. E o conselho é ridículo de simples aqui: para você manter a calma, simplesmente evite-o. Abra de noite. Ou não abra. Limpe sua vida desses grupos. Fuja. Restrinja a comunicação ao mínimo necessário. Não deixe que o trabalho se infiltre pelo aplicativo – ele pode chegar para você às dez da noite, o que é horrível. Você vai dormir perturbado e o dia seguinte já vai começar tosco. Reflita! O que de absolutamente relevante de trabalho chegou para você por WhatsApp que alguém não tenha replicado para o seu e-mail? (na boa….). Importante: não estou demonizando o WhatsApp, mas observe ao seu redor. Quantas pessoas estão estressadas teclando no celular ou passando áudio furioso? Eu vejo pelo menos umas 5-6 pessoas por dia na rua assim. Esta é uma ferramenta bastante útil e uma mão na roda quando serve para NOS AJUDAR. Mas, se não está ajudando, pulemos fora.
  9. Faça uma lista de tudo o que o estressa no dia a dia. Conheça os chamados “triggers”, aquelas coisas que despertam o seu monstro interior. É certo que você pode agir para resolver 99% dessa lista. E atenção com os itens onde você culpa terceiros, por exemplo: “Fulana gritando todo dia do meu lado”. A culpa é realmente dela? Já tentou falar com ela de forma educada a respeito disso?
  10. Tente encontrar padrões no seu acesso de fúria. Vou dar o meu exemplo. A minha fúria vinha com a fome. Posso cravar isso com 99% de certeza: se eu me alimentar mal, vou ficar furiosa com alguma situação estressante. E isso é comum em muita gente. É só observar ao redor. E por isso eu digo: observe-se. Veja se a coisa toda não é fome ou alimentação ruim. Claro, você pode ter algum outro padrão. Autoconhecimento é fundamental. Pegue um evento e vá andando para trás: “aconteceu x. Eu me estressei. Por quê?” “por causa de y. E por quê isso me estressou?” “porque z aconteceu. Ok. E aí, por que isso me estressou tanto?” Se você seguir os porquês (vá espichando até 6 ou 7 porquês), provavelmente vai chegar a uma razão como “não comi direito hoje”. Ou às vezes foi uma coisa trivial, tipo “não dormi direito hoje”. Investigue-se. Você vai se surpreender com o resultado.

Explicando a alucinação coletiva da mídia (3) – A obsessão com o Olavo de Carvalho

Eu não sei nem por onde começar. Vamos ao fato:

olavo-folha-bizarro

Esta é uma reportagem da Época (que começa na pág. 48 e vai até a 81!) só sobre o Olavo. Ainda não cheguei nem na metade e dei de cara com isso aí em cima.

O quão vil é o jornal usar robôs para analisar os escritos do Olavo? O que isso mostra? Algumas possibilidades:

a) Preguiça do jornal.

b) Falta de verba para alocar alguém para ler.

c) Os jornalistas da Folha seriam incapazes de ler o Olavo (ler de verdade, numa boa, para tentar sacar o que o cara tem a dizer). E essa é uma possibilidade real. Nem todo mundo sabe ler. Sério. Eu trabalho com isso e sei do que estou falando. Juntar letras é fácil; já interpretação de texto é DIFIÇÃO. Grande parte do tumulto nas redes sociais é isso: neguinho não sabe ler o que o outro posta.

d) A pauta já começou maldosa na cabeça de quem teve a ideia. “Vamos provar que o Olavo não é filósofo!!!!”.

e) Mais uma vez, trata-se de jornalistas perdidos num cenário impensável para quem foi criado no lado esquerdo da força desde a aula 1 da faculdade: gente de direita dominando o cenário!??! Pensando e tendo seguidores?!?!? Como assim??? PODE ISSO, ARNALDO???

Aiaiai. ACOSTUMA LOGO, pô. Tá ficando feio.

A mídia não está sabendo lidar com o Bolsonaro há tempos. Bocejo. Sendo assim, está rolando, há meses, uma loucura de tentar achar uma razão para o “desastre mundial” que foi essa última eleição. Aí encontraram um “guru” que, talvez, seja a explicação que eles tanto queriam para o que está acontecendo.

O Eduardo Bolsonaro foi aluno dele! Ele indicou dois ministros! Ele tem milhares de seguidores!

Uuuuuu! Que medo!

Gente. Pelamordedeus. Acordem para a vida. Sabem quantos porcento de eleitores votaram no Bolsonaro por causa do Olavo? Não deve ter sido nem 2%. Vamos fazer as contas: foram 54 milhões de votos, certo? E o Olavo tem, o quê? 1 milhão de seguidores? (se tanto….) Vamos supor que TODOS ESSES SEJAM ELEITORES E VOTEM. Nem assim chega a 2%, pessoas. Então relaxemos.

O Olavo não é nem de longe a razão pela qual o Bolsonaro foi eleito. O Olavo não é nem sequer um evil mastermind que faz lavagem cerebral nas pessoas em seu curso. Fala sério. Prossigamos.

Essa crença da mídia, de que existe uma seita e que o Olavo é um guru, é hilária. O objetivo é desconstruir o cara. Quem ele é? Por que é adorado?

“O Olavo precisa ser demolido!! Tem que ser desacreditado!!”

Esse trabalho hercúleo que a mídia está tendo para tentar destruir um personagem é exatamente o que o Olavo prega que seus seguidores façam. Destruir o marxista, e não o marxismo, relata a Época em um dado momento (“Investigue alguma sacanagem do sujeito e destrua-o”, disse ele).

O truque da mídia é o mesmo truque do Olavo: vá atrás da pessoa. Não tente entender a ideia do cara. Passe por cima como um trator.

Eu entendo o que ele quer dizer com isso porque eu sou adepta do mantra FATOS NÃO IMPORTAM.

Quando ele diz que não vale a pena debater ideias, o que ele quer dizer é o seguinte: fatos não ganham debates. Ninguém nunca será convencido (especialmente na internet!) de algum argumento ao trocar ideias com um eventual oponente. Isso não existe.

Persuadir o outro requer outro tipo de tática. A do Olavo é a truculência, mas existem várias outras formas de persuasão.

Fatos não importam para o ser humano tomar decisões, tais como votar ou consumir algo. Claro: fatos importam para o engenheiro construir uma ponte, por exemplo. Para o médico fazer algum diagnóstico. Para decisões como “está frio, vou vestir um casaco”. Etc. Mas fatos são absolutamente irrelevantes para moldar nosso comportamento e nossa decisão de voto ou de compra ou de escolha de namorado etc. etc. etc.

O Olavo sacou isso. Para influenciar alguém uma hegemonia cultural é que precisa ser conquistada, digamos assim. (O tema é bem mais amplo que essa minha frase, e meu ponto principal não é esse. Voltemos!)

É fascinante que a mídia faça igualzinho o que o Olavo prega e não entenda o Olavo.

Isso é guerra cultural. Olavo ameaça essa hegemonia da mídia? Duvido muito. Mas que a imprensa está se sentindo atacada, ahh isso está.

A coisa só vai sossegar quando – e se – o Olavo sossegar um pouco, hehehe.

Explicando a alucinação coletiva da mídia (2) – Episódio “Ofensiva contra a universidade”

Roberto Pompeu de Toledo, na Veja desta semana, deu a entender que há fascismo se insinuando pelo governo Bolsonaro. Que coisa.

Ele pega um mote de um general fascista (Abajo la inteligencia, viva la muerte) e o encaixa no governo Bolsonaro por conta da educação (inteligencia) e de um decreto das armas (viva la muerte).

A parte inicial me intrigou e é nela que eu vou focar aqui para tentar mostrar que essa alusão ao fascismo é totalmente irracional, ‘mkay?

Vejamos:

“O governo Bolsonaro, com sua ofensiva contra a universidade (“Abajo la inteligencia”) (…)”

Vamos lá, aos pouquinhos. A parte inicial do mote (Abajo la inteligencia) é comparada a uma “ofensiva contra a universidade”. Hummm.

Reflitamos.

Por que uma “ofensiva contra a universidade” seria equivalente a “Abajo la inteligencia”?

Observe como esta é uma reação absolutamente emocional. Não há lógica alguma por trás disso. Vejamos, devagarinho, para ver se me faço entender.

O que é uma “ofensiva contra a universidade”?

  • Estão querendo acabar com a universidade, né!! Hummmm, não. Até onde se sabe, ninguém quer acabar com universidade alguma.
  • Mas estão fazendo cortes na verba! Isso não é uma destruição metafórica da universidade?? Hummm, não. E não é corte, é “contingenciamento”. Se pra você as palavras são idênticas, sugiro que consulte um dicionário e volte aqui. (Só pra resumir: no corte, a verba acaba. No contingenciamento, a verba ainda existe, só não vai ser liberada agora. Mas voltemos.)
  • Se isso não é uma ofensiva, o que é uma ofensiva para você, então, sua bruxa horrível que não vê a destruição da universidade nisso??? Cara, segundo o dicionário, “ofensiva” é uma “ação ou atitude de investir contra algo ou alguém”. E eu simplesmente não vejo isso. Segurar o dinheiro é ir “contra” a universidade?? Por quê?? Arrumem outro argumento menos emocional, por favor. Desde quando não ter dinheiro para algo significa ir contra esse algo?? Não faz sentido. Parece birra de criança quando não recebe a mesada e responde pro pai, chorando: “você não me aaaama!!!!”. Ora, ora, ora. Tenha a paciência. Podemos concordar que este não é um argumento racional? Prossigamos.
  • Mas o que o colunista quer dizer é que o Bolsonaro não dá importância para a universidade!! Bom, isso aí é TOTALMENTE diferente de “ofensiva”, “ataque”, “destruição” e demais palavras dramáticas. E também é TOTALMENTE achismo. Igualmente, trata-se de um não-argumento, pois é impossível entrar na cabeça do Bolsonaro para ter CERTEZA ABSOLUTA de que ele menospreza a universidade. Então não vou nem rebater isso, pois é impossível ler a mente do presidente da República. Prossigamos.
  • Você não concorda que o Bolsonaro é contra a inteligência?? Hummm, não. Ele pode não ser muito inteligente (o ponto não é esse), mas não há nenhum fato que corrobore o raciocínio de que ele é CONTRA a inteligência. E como você prova algo assim? Como você prova que alguém é CONTRA a inteligência? Não faz sentido algum, você teria que entrar na cabeça da pessoa.

De novo: não sou vidente. Você não é. Ninguém é. Não tenho o menooor interesse em elucubrar sobre a mente do Bolsonaro, pelamordedeus. Prossigamos. Vamos aos (poucos) fatos que sabemos.

  1. O governo não tem dinheiro para tudo.
  2. O governo resolveu priorizar a educação básica. (Veja aqui).
  3. O governo congelou a verba do ensino superior para priorizar a educação básica.

Ok?

São esses os fatos. O resto é pura reação emocional (e irracional) aos fatos.

Sabe o que é o mais curioso? É que a gente passou os últimos 2-3 anos (ou mais!) com a mídia e os especialistas implacavelmente martelando na nossa cabeça que o governo tinha que “priorizar a educação básica”.

Pois bem, o que o atual governo falou que vai fazer??

PRIORIZAR. A. EDUCAÇÃO. BÁSICA.

E o que aconteceu agora? Uma saraivada de colunistas e comentaristas indignados, que, espertamente, esqueceram desse pequeno detalhe da explicação do ministro e veem no “corte” uma “ofensiva” contra a universidade. Ora pois.

Vamos repetir então: PRIORIZAR. A. EDUCAÇÃO. BÁSICA.

Como você critica isso de forma racional? Não dá.

Não dá pra virar e falar: “o governo não deveria priorizar a educação básica, deveria priorizar a universidade”. Eis uma opinião que ninguém vai verbalizar.

E eu não vou nem perder meu tempo com isso. Todo mundo concorda que uma boa educação básica leva a um ensino superior melhor, com alunos mais preparados, yadda yadda yadda. Todos concordamos com isso.

(E também não dá para aceitar o papinho de que o governo deveria “priorizar os dois”. Tanto que não vi ninguém falando isso na mídia, pois trata-se do raciocínio mais ilógico de todos. Priorizar tudo não faz sentido algum. Para priorizar algo, outra coisa tem que ser “despriorizada”. Dã.)

Então o que acontece que o colunista fica nessa de “ofensiva contra a universidade”? Por que ele esqueceu de mencionar a falta do dinheiro e a decisão do governo de priorizar a educação básica? Porque, claro, isso não caberia num artigo que tenta aludir ao fascismo o tempo inteiro.

O colunista tem certeza absoluta de que Bolsonaro é “abajo la inteligencia”, adivinhando o que se passa na cabeça do presidente, porque está sofrendo do conhecido efeito do “confirmation bias”. Trata-se de irracionalidade e alucinação pura.

Para as pessoas que temem que o fascismo possa ter chegado, qualquer coisa que o governo faça vai ser confirmação de que ele, o fascismo, está às nossas portas. Então, em vez de ver a priorização da educação básica, ele escolhe ver o “corte” de verbas da universidade ameaçando a inteligência do país. Quando ele vê um decreto sobre armas, vê o resto da frase fascista (“viva la muerte!”). E assim vai.

Você pode praticamente encaixar o que quiser nesse raciocínio.

SÓ QUE…

Se houver pelo menos UMA pessoa que não está vendo o fascismo chegar, não se deve descartar a possibilidade de que isso tudo seja alucinação da parte dele.

Aliás, boa pergunta: como saber? Como saber se não sou eu que estou alucinando?

Bom, primeiro, é bom esclarecer aqui que é muito mais difícil alguém alucinar que algo NÃO existe. Tipo: é possível alucinar que um elefante está na sala; mas é bastante mais improvável alucinar que um elefante NÃO está na sala.

Então digamos que eu tenha uma leve vantagem sobre isso. Quem está vendo coisas não sou eu. Pois bem.

Devo ressaltar aqui que eu não descarto o fascismo. Ok? Eu estou de olho também. Não gosto de fascismo, nazismo, autoritarismo, nada disso. Sou 100% contra.

Acontece que eu não estou vendo isso ainda. E resolvi então desconstruir aqui os “argumentos” nessa história louca da educação.

Espero ter mostrado o quão irracional a coisa toda está. Sempre que eu encontrar um pico de surto da mídia, vou tentar registrar aqui e explicar.

A mídia não entendeu e continua não entendendo o Bolsonaro. Proponho que a gente continue observando!

(Meu primeiro texto sobre a alucinação da mídia está aqui.)

Explicando a alucinação coletiva da mídia (1)

Uma coisa intrigante está ocorrendo com a imprensa desde a vitória do Bolsonaro nas eleições. Chamemos de “alucinação coletiva”.

Eu leio a ÉPOCA de forma atrasada (não tenho pressa alguma, é entretenimento) e deparei com uma revista, de novembro, semanas após a vitória, onde eles resolveram escarafunchar os BOLETINS do cara. É isso aí.

Se você, como eu, é um consumidor voraz de notícias há certo tempo, deve desconfiar que isso é, no mínimo, bizarro. Ninguém nunca fuçou as notas da Dilma na Unicamp, FHC na Sorbonne, Lula no colégio, etc.

O que houve que AGORA resolveram fazer isso? Se o Haddad tivesse ganhado, iam lá fuçar o histórico escolar dele? O que você acha?

Meu pitaco sobre a ÉPOCA é o seguinte. Nós temos uma redação lotada de profissionais alinhados à esquerda que, mesmo que se considerem “isentos”, estão enfeitiçados por uma coisa chamada REDE SOCIAL. Nas redes sociais você convive tanto com as opiniões próximas às suas que a mera existência do ‘outro lado’ se torna impensável. E, assim como qualquer timeline, o que ela vê no seu feed é predatório. As piores opiniões do “outro lado” estão sempre em destaque para horrorizar a pessoa e fazê-la rolar a tela loucamente e nunca sair do aplicativo (eu falo mais sobre isso aqui e aqui).

Não podemos esquecer também que o clima no segundo turno era de paranoia geral. Pessoas consternadas com a vitória iminente do Bolsonaro eram facilmente influenciáveis por posts/discursos no tom de “não é questão de direita-ou-esquerda, é questão de certo-ou-errado, é uma questão de votar contra a barbárie”. Então a disputa de repente virou “moral”. O lado certo era o voto “ele não”.

Agora você imagina um jornalista, naturalmente inclinado à esquerda, naturalmente com centenas de amigos igualmente inclinados à esquerda, naturalmente querendo fazer o “bem”. O que você acha que se passa na cabeça dessa pessoa?

“É errado eleger o Bolsonaro. Isso é ruim. Vai fazer mal ao país. É o fim do poço. O que posso fazer a respeito?”

Agora você imagina uma redação inteira de pessoas que pensam assim trabalhando em uma revista, olhando zapzap e Facebook sem parar. Qual será o resultado disso? Colapso mental completo.

Podemos concluir que tem gente com poder de decisão de pauta lá dentro que muito provavelmente acompanha uma timeline predatória. E, por ossos do ofício, essa pessoa não pode simplesmente largar as redes sociais e tentar fazer uma revista sem olhar o Facebook ou o Twitter. Isso é impossível nos dias de hoje.

O que você faz quando tem que fechar uma edição de revista e está convencido de que um fascista chegou ao poder com mais de 57 milhões de votos? Começa a entrevistar pessoas que estão igualmente apavoradas com a situação. Libera seus colunistas para surtar. Põe os repórteres para catar qualquer coisa – qualquer coisa! – negativa sobre o eleito.

No caso, essa pauta do boletim, pelo que consta na própria matéria, começou ANTES da vitória no segundo turno. Então perceba que o objetivo da revista era “denunciar” as notas do presidente na Academia Militar *durante* as eleições.

Qual seria o objetivo de divulgar as notas do Bolsonaro durante as eleições? Você consegue encontrar outra palavra para descrever isso que não seja “tumultuar”?

O objetivo é esse: tumultuar.

Não é uma questão de “o povo quer saber, a imprensa tem que reportar”. Ninguém realmente quer saber do boletim do Bolsonaro. Ninguém se importa. Isso não atrai leitor (tanto que não era nem matéria de capa). Isso é tumultuar o processo.

Isso é o que os jornalistas, enfeitiçados pelas redes sociais, podem fazer a respeito do Bolsonaro. Eles podem tumultuar publicando não notícias.

Outras formas de fazer isso:

  • Criar futricas soltando notinhas do tipo “fontes próximas ao governo acreditam que ….”.
  • Reportar sobre o “caos” das primeiras semanas (como se nenhum governo passasse por isso).
  • Reclamar de forma indireta sobre o tratamento dado aos jornalistas (vimos isso na posse e aqui e ali, quando o repórter solta no JN “Na volta de não-sei-onde, Bolsonaro não falou com a imprensa”, mas 20 segundos depois mostra ele falando com quem? A imprensa! Tsc!).

Prepare-se, portanto, para quatro anos de imprensa inconformada tentando tumultuar o governo. É essa a palavra. Tumultuar. E tumultuar é bem diferente de informar o leitor. Preste atenção.

Eu já vi na VEJA comentários nonsense como as reclamações acerca de repórteres estarem sendo “maltratados” na posse, com um cerimonial mais restritivo. Como se desconforto significasse censura. (outra forma de tumultuar).

 

Taí outro ponto interessante para abordar mais à frente: a má vontade – ou desinteresse – do Bolsonaro com a imprensa. Quando eu tiver chegado na ÉPOCA de janeiro, quem sabe, volto a falar disso? hehehehe.